Há muito tempo atrás, mais ou menos uma da manhã de um dia qualquer:
Ele freou bruscamente o seu Escort e com os olhos enfurecidos gritou:
- Sai do carro!!- Que isso, cara? Você não está falando sério.
- Vic, sai do carro já!
- Vamos conversar.
- Se você não sair agora eu te meto a porrada!
Regra número 5 de quando você transa com a irmã de um amigo:
Se for contar para ele, não o faça quando estiver de carona, durante a madrugada e em um lugar ermo.
Só desci do carro porque eu nunca tinha visto ele tão nervoso.
E só contei a ele sobre eu e a irmã dele porque não sabia que ele ficava tão puto em relação a ela. Pensando bem, não fui bem eu que contei.
Há muito tempo atrás, cinco minutos antes de mais ou menos uma da manhã de um dia qualquer:
Estávamos no carro escutando o cd recém comprado da banda predileta dele.
Já tinham passado umas três músicas, a cerveja acabara.
O clima estava tenso, ninguém falava porra nenhuma e eu comecei a vomitar as minhas teorias musicais:
- Você não entendeu.
Não é que eu ache Dire Straits uma bosta.
Eles têm músicas legais, mas a grande maioria é meio "corno music".
Tudo muito lento e falando de alguma paixão. Não faz a minha cabeça.
- Esse é o seu problema, Vic. Você não respeita nada.
- Não estou dizendo que eu não respeito o Dire Straits.
O Mark Knopfler é até legalzinho. Mas não passa disso também.
Eu nem sei escrever Dire Straits para poder não respeitar...
- Viu? É exatamente disso que eu estou falando.
- Falando o que?
- Você sempre faz isso.
Joga uma ironia em cima do que os outros estão falando.
- Ah, Luiz. Para de graça. Foi só uma piada.
- É disso que eu estou falando.
Tudo para você é uma piada.
A banda predileta de alguém é uma piada, o jeito dos outros se vestirem é uma piada, as fantasias das pessoas são uma piada, e, logicamente, comer a irmã dos outros é uma piada.
- Do que você está falando?
- Você sabe, Vic.
Você comeu ou não comeu a minha irmã hoje?
- Ela te contou?
- Não contou porra nenhuma.
Eu descobri.
- Como?
Eu esqueci a minha cueca na sua casa?
- Sai do carro!!
Regra número 4 de quando você transa com a irmã de um amigo: se ele está te interrogando furioso sobre a irmã, essa não é uma boa hora de você fazer uma piadinha.
Eu ainda estava intrigado de como ele descobriu sobre eu e a irmã dele.
Mas uma coisa eu sabia, eu estava usando muita coisa dele no mesmo dia e isso só podia dar merda.
A irmã dele, na casa dele, no quarto dele, na cama dele, depois saio com ele, no carro dele, bebendo as cervejas dele.
Se eu soubesse disso, eu nunca teria entrado naquele carro.
Há muito tempo atrás, meia-noite e meia de um dia qualquer:
Ele simplesmente olhou pra mim e falou.
- Beleza.
Então vamos?
- Como assim, vamos?
- Ué, Vic!
Você me esperou chegar até meia-noite eu no mínimo te devo uma cerveja.
Vamos dar uns giros, tomar uma cerva e conversar um pouco.
- Porra bicho, você deve estar meio cansado.
Eu cheguei aqui umas dez e meia para te chamar para uma cerveja.
Você não chegava, eu e a Dani começamos a ver Amnésia na HBO.
Acabou quase agora.
Eu já estava indo para casa quando você chegou.
Se você quiser ficar, tudo bem.
Eu já nem contava mais em te encontrar hoje.
- Por isso mesmo que eu faço questão de te levar. Olha só.
Pega umas cervas na geladeira que eu vou colocar no carro aquele cd do Dire Straits que eu estava louco para comprar.
- Cara, não precisa mesmo.
Eu estou de boa.
- Porra, tem algum problema eu te levar para casa?
Não quer mais as minhas caronas?
- Que isso cara! Sem problemas.
Vamos embora.
Regra número 3 de quando você transa com a irmã de um amigo: Não encontre com ele no mesmo dia que ele descobrir.
Se encontrar, vá embora o mais rápido possível.
Mesmo que isso pareça estranho.
De um jeito ou de outro ele vai descobrir, porém quanto mais tempo passar, menos raiva ele vai sentir.
É claro que eu percebi alguma coisa estranha no ar.
Ele pescou algo assim que entrou.
Eu sabia que eu tinha calculado mal o tempo e tinha aquela tensão de ele chegar a qualquer hora. Mas sabe como é, tensão rima com tesão e foi mais ou menos isso que gerou a coisa toda.
Isso e as piadinhas.
Quando eu já estava andando sem camisa, procurando um táxi no meio da madrugada eu estava pensando que em uma coisa ele estava certo: eu faço muita piada em horas inoportunas e isso me mete em cada furada.
Por que eu continuo fazendo essas piadinhas, então?
Bem, se não fosse as minhas piadinhas, talvez eu não estivesse perdido na madrugada.
Mas também não teria transado.
Há muito tempo atrás, onze e alguma coisa de um dia qualquer:
- Oi, eu estava lá no meu quarto e não escutava nenhum barulho e vim aqui para ver se você ainda estava vivo.
- Fala verdade, Dani.
Você veio aqui para ver se eu estava mexendo nas G Magazines do seu irmão.
Onde ele as esconde? Aqui de baixo da cama dele?
- Ai, Vic. Você é um bobo.
O que você está fazendo afinal?
- Na verdade a pergunta é: o que VOCÊ está fazendo que não está vendo Amnésia aqui comigo?
- Eu já ouvi falar desse filme. Ele é bom?
- Do cacete.
Te dou um beijo se você conseguir entender alguma coisa dele.
- E se eu não conseguir?
- Bem, aí eu que vou ganhar um beijo!
- Ah, você é muito bobo.
- Cuidado. Nenhuma mulher me chamou de bobo duas vezes em uma noite e saiu impune.
- Ai, Vic. Tá bom.
Se eu entender o filme você me paga uma cerveja.
- Fechado.
E daí ela sentou do meu lado.
Começamos a ver o filme.
E eu comecei o cafuné.
E ela o carinho no meu peito.
Eu dei o beijo no pescoço.
Ela me abraçou.
Nos beijamos.
Eu desci a mão.
Ela montou em cima de mim.
Eu tirei a blusa dela.
Ela jogou a minha pra qualquer lado.
E o resto vocês podem imaginar.
Depois do fato consumado, ficamos deitados.
Conversando...
- Você me deve mais um beijo, Dani.
- Hum?
- Você me deve mais um beijo, porque eu duvido que você consiga me explicar o filme agora que já está no final.
- Você trapaceou.
Você não me deixou ver o filme.
- Não tinha nada nas regras que eu não podia transar com a concorrente durante a disputa.
Da próxima vez, é melhor você deixar isso bem claro.
- Tá bom.
Agora cala boca e me beija logo.
E nessa hora que escutamos o barulho do lado de fora e imaginamos quem deveria estar chegando.
Não sei se ele ia ficar mais puto com o fato de eu transar com a irmã ou com a mancha que eu tinha deixado no lençol da cama dele.
Fato é que eu nem pensei muito. Ela fez um bolo com as minhas roupas e me empurrou para fora do quarto. Eu me vesti no corredor mais rápido que o Flash veste o uniforme. Dei duas balançadas para a cabeleira voltar para o lugar e fui andando na direção da sala. Ele passou por mim voando, só falou um surpreso "Ei, você por aqui". E entrou no banheiro.
Eu estava salvo. Estava salvo pelo aperto dele de dar uma cagada. Teve tempo de sobra para Dani se vestir, trocar o lençol do quarto e ir para a cozinha como se fosse um dia normal. Fiquei esperando na sala e nessa hora formulei a regra número dois de quando você transa com a irmã de um amigo. Foi o tempo dele sair do banheiro, falar "Beleza. Então vamos?", me colocar no carro e me largar no meio do nada.
Regra número 2 de quando você transa com a irmã de um amigo: transou, partiu. Nada de papos de travesseiro. É dar muita chance para ele chegar e te pegar peladão ao lado da irmã. Mas ainda resta uma dúvida: como ele descobriu? Bem, isso foi tão idiota que eu percebi logo depois que fui largado no meio da madruga:
Há muito tempo atrás, trinta segundos depois de mais ou menos uma da manhã de um dia qualquer:
O Escort começou a dar ré e eu vibrei pensando que ele tinha se arrependido de largar o cunhadão na madrugada sozinho. Ele parou do meu lado, baixou o vidro eletrônico do carona e falou:
- Tira a camisa.
- Que porra é essa?
- Tira a merda da camisa!
- Eu não vou tirar porra nenhuma! Essa camisa é min...E olhei e vi aquela camisa do Korn. Eu não tenho camisa do Korn. Nunca tive. Eu odeio Korn...Regra número 1 de quando você transa com a irmã de um amigo: Verifique as suas roupas antes de sair.
Fiquei até um pouco impressionado que ele tenha juntado dois mais dois só por conta da camisa. Deve ter percebido alguma movimentação quando estava no banheiro, achou estranho eu saindo do quarto dele, nossa pele suada apesar do ar ligado e juntou tudo. Ou sentiu o cheiro de sexo no ar. Ele foi embora e eu fiquei puto por estar a pé e sem camisa na madrugada. E fiquei puto por ela ter jogado a camisa errada. E fiquei mais puto com a minha camisa que ficou no quarto dele.
Daí, lembrei que tinha recebido um boquete naquele dia. E fui embora para casa com um grande sorriso.
ví no chongas que viu no o padre voador.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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Um comentário:
Nossa que textão...
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